Cerimónia a realizar-se nas primeiras semanas de Março
Por ocasião do LOSAR (a entrada do novo ano, segundo o calendário budista), vai-se realizar uma libertação de animais, juntamente com a celebração de um ritual budista. É importante fazer a prática de libertar animais da forma o mais eficiente. Quando assim é, esta revela-se um método prático e poderoso para prolongar a vida, não só evidentemente para os seres que são libertados, como para os seres envolvidos de alguma forma nessa atitude.
É uma prática corrente budista, em muitas partes do mundo, libertar animais que estão presos e destinados a uma morte violenta. Esta actividade, que coexiste com outras práticas caritativas destinadas a ajudar seres humanos em sofrimento, baseia-se nos ensinamentos do Buda sobre o amor e a compaixão universais e imparciais. Segundo estes ensinamentos, todos os seres vivos ou sensíveis desejam igualmente a felicidade e evitam o sofrimento. Dia e noite, mesmo em sonhos, instintivamente tentamos evitar mesmo até o menor sofrimento. Isso indica que apesar de não estarmos plenamente conscientes disso, o que procuramos de facto é a libertação permanente do sofrimento. Por outro lado, todos os seres vivos, seja qual for a sua forma actual, já estabeleceram connosco relações próximas, ao longo dos seus inumeráveis renascimentos e vidas no ciclo da existência (samsara). Os ensinamentos budistas consideram que todos os seres vivos já foram os nossos próprios parentes mais íntimos, pais, mães, filhos e filhas. Mediante esta tomada de consciência, visa-se tornar-nos sensíveis ao seu sofrimento actual, fazendo o que nos for possível para o diminuir e extinguir.
De todos os sofrimentos, a morte violenta é o maior, porque todos os seres estão acima de tudo apegados à vida. De todas as mortes, as mais dolorosas são as daqueles seres que são cozidos vivos, também devido ao tempo da cozedura, em função da dor e da sua diferente percepção do tempo, resultar para eles muito dilatado. É por isso que os budistas privilegiam a libertação de mariscos vivos – amêijoas, berbigão, santolas, lagostas, etc. -que se podem adquirir nos viveiros e libertar no alto mar ou em lugares fora do alcance ou da vista de quem possa querer apanhá-los. Também podem ser caracóis, minhocas para isco ou outros animais vendidos vivos nos mercados, como coelhos.
Normalmente escolhem-se os dias de lua nova ou lua cheia, bem como dias consagrados do calendário budista, em que por motivos astro-cosmológicos a energia vital está mais concentrada em nós e no mundo e os efeitos kármicos das acções, positivas ou negativas, se multiplicam imenso. Esta libertação será feita na 1º semana depois do Losar, pois, segundo os ensinamentos budistas os 15 primeiros dias do novo ano tibetano são dias consagrados a actividades especiais realizados pelo Sr.Buda e revestem-se de uma importância excepcional devido, entre outros, ao facto de que neste período de tempo Os efeitos cármicos das acções feitas são multiplicados por milhões de vezes. Fazem-se orações e repetem-se mantras pelos animais que se vão libertar e procede-se então à sua libertação. É importante fazer a prática de libertar animais da forma mais eficiente. No que se refere a isso, a prática de dar o Dharma, através da recitação de orações e mantras é extremamente importante. Se simplesmente compramos animais e os soltamos onde não existe perigo para a suas vidas não estamos lhes trazendo muito benefício. Visto que não tem a oportunidade ouvir o Dharma, a maioria, quando morre, continua a renascer em mundos inferiores. Claro que a nossa acção traz algum benefício aos animais porque estamos prolongando as suas vidas, mas o maior benefício vem de ouvir a recitação do Dharma. Recitar mantras, falar sobre o bodhicitta, etc., deixa marcas nas mentes dos animais e assegura que no futuro possam-se reunir as condições adequadas para que esses animais possam efectivar o caminho para a iluminação. Segundo os ensinamentos do Buda, a virtude e os méritos, o karma positivo, acumulado pela salvação de vidas é enorme, tem um grande poder purificador das nossas próprias acções negativas passadas e pode ser dedicado para ajudar outros seres que passam por situações de sofrimento e doença, que estão moribundos ou já morreram. O poder benéfico desta dedicatória será tanto maior quanto mais se estenda a todos os seres, incluindo naturalmente todos os homens que causam directa ou indirectamente a morte de outros seres vivos, pescando-os, caçando-os, comercializando-os e comendo-os, e criando assim as condições para virem a passar pelos mesmos sofrimentos no futuro. Esta prática visa pois beneficiar todos os seres sensíveis, independentemente da sua forma actual.