Disse Tsering Paldron, no curso intensivo de Budismo Tibetano realizado na UBP em Lisboa no ano passado o seguinte: para nós, praticantes da via de Buda, meditarmos todos os dias, mesmo naqueles em que não há vontade para isso, pois mais tarde iríamos recolher o fruto. Recordo-me também de ouvir numa das suas aulas que a verdadeira liberdade reside em não fazer aquilo que desejamos. Que belo curso! Julgo que na minha vida não aprendi tanto como aprendi naqueles Sábados magníficos, a ouvir a acutilância de Paulo Borges, o eruditismo de António Teixeira e a bondade e erradiância alegre e iluminada de Tsering Paldron.
Mas, para além de aprender, frisavam eles muitas vezes que os ensinamentos assemelham-se a uma jangada que nós usamos para atravessar um rio e que uma vez alcançada a outra margem - a margem da iluminação - que seria um fardo acarretá-la às costas, ou seja, era preciso abandoná-la. Sabedoria de Buda Shakhiamuni, creio eu... Em dezoito anos de escola frequentados por mim desde menino até adulto, nunca tal sabedoria me fora transmitida. E no entanto, julgo ser das afirmações mais profundas que ouvi. E no entanto, na escola aprendi a ser adulto para agora querer desaprender e voltar a ser menino.
Diziam os professores que fazer discursos sem aplicar as suas ideias à vida quotidiana era idêntico a proferir palavras vãs, uma acção causadora de véus mentais. Não me esquecerei aquele episódio quando, num intervalo, o professor António Teixeira deixa cair, acidentalmente sobre a sua roupa, água quente para fazer chá... Impávido e sereno, o professor foi buscar um pano e resolveu a situação... Não é esta uma situação em que as pessoas normalmente se enervam ou entram em pânico?
Quem medita com o professor Paulo Borges certamente já reparou na sua voz grave, profunda e serena com que conduz a prática. As nossas mentes inquietam-se pois são como macacos que saltam de galho em galho (como escreveu Mingyour Rinpoche), mas a sua voz, que dá a sensação de provir das profundezas da terra, corta com a ilusão dos pensamentos conceptuais e da vanidade das emoções que fluem permanentemente na nossa mente, e conduz-nos novamente para o objecto de concentração. Um dia, diz o professor, vocês não precisarão mais de objecto de concentração e passarão, simplesmente, a repousar em estado de conciência primordial, que não é nem um estado de meditação nem de não-meditação. Quando assim repousarem dia e noite, então poderão largar a jangada...
3 comentários:
Caro Kunzang, não nos faça esquecer que nada somos, apenas bolhas na água ou bolas de sabão, vacuidade!
Abraço sem braços
Recordo agora que não lhe respondi a uma questão que ficou para trás... Não me parece que se possa fazer aquela equivalência que referiu, mas agora não posso explicar isso. Desculpe!
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