sábado, 28 de novembro de 2009

Recordações do Curso de Budismo Tibetano

Disse Tsering Paldron, no curso intensivo de Budismo Tibetano realizado na UBP em Lisboa no ano passado o seguinte: para nós, praticantes da via de Buda, meditarmos todos os dias, mesmo naqueles em que não há vontade para isso, pois mais tarde iríamos recolher o fruto. Recordo-me também de ouvir numa das suas aulas que a verdadeira liberdade reside em não fazer aquilo que desejamos. Que belo curso! Julgo que na minha vida não aprendi tanto como aprendi naqueles Sábados magníficos, a ouvir a acutilância de Paulo Borges, o eruditismo de António Teixeira e a bondade e erradiância alegre e iluminada de Tsering Paldron.

Mas, para além de aprender, frisavam eles muitas vezes que os ensinamentos assemelham-se a uma jangada que nós usamos para atravessar um rio e que uma vez alcançada a outra margem - a margem da iluminação - que seria um fardo acarretá-la às costas, ou seja, era preciso abandoná-la. Sabedoria de Buda Shakhiamuni, creio eu... Em dezoito anos de escola frequentados por mim desde menino até  adulto, nunca tal sabedoria me fora transmitida. E no entanto, julgo ser das afirmações mais profundas que ouvi. E no entanto, na escola aprendi a ser adulto para agora querer desaprender e voltar a ser menino.

Diziam os professores que fazer discursos sem aplicar as suas ideias à vida quotidiana era idêntico a proferir palavras vãs, uma acção causadora de véus mentais. Não me esquecerei aquele episódio quando, num intervalo, o professor António Teixeira deixa cair, acidentalmente sobre a sua roupa, água quente para fazer chá... Impávido e sereno, o professor foi buscar um pano e resolveu a situação... Não é esta uma situação em que as pessoas normalmente se enervam ou entram em pânico?

Quem medita com o professor Paulo Borges certamente já reparou na sua voz grave, profunda e serena com que conduz a prática. As nossas mentes inquietam-se pois são como macacos que saltam de galho em galho (como escreveu Mingyour Rinpoche), mas a sua voz, que dá a sensação de provir das profundezas da terra, corta com a ilusão dos pensamentos conceptuais e da vanidade das emoções que fluem permanentemente na nossa mente, e conduz-nos novamente para o objecto de concentração. Um dia, diz o professor, vocês não precisarão mais de objecto de concentração e passarão, simplesmente, a repousar em estado de conciência primordial, que não é nem um estado de meditação nem de não-meditação. Quando assim repousarem  dia e noite, então poderão largar a jangada...


3 comentários:

Paulo Borges disse...

Caro Kunzang, não nos faça esquecer que nada somos, apenas bolhas na água ou bolas de sabão, vacuidade!

Abraço sem braços

Paulo Borges disse...

Recordo agora que não lhe respondi a uma questão que ficou para trás... Não me parece que se possa fazer aquela equivalência que referiu, mas agora não posso explicar isso. Desculpe!

Conceição disse...
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